Os baixos salários deixaram de ser motivo de insatisfação para os bombeiros do Piauí há muito tempo. A principal reclamação da categoria no estado é a falta de equipamentos de proteção individual. Não são raras as vezes em que os bombeiros precisam manipular cadáveres sem luvas ou combater incêndios sem os trajes adequados, conforme denúncia feita pela Associação dos Bombeiros Militares do Piauí (ABMEPI).
Segundo a ABMEPI, existe somente uma unidade de resgate no estado que é usada em Teresina e na Região Metropolitana. Para combate a incêndio, há apenas dois carros em operação. Se a equipe sai para socorrer uma pessoa, é necessário esperar o retorno do veículo para que outra vítima seja atendida.
“Os bombeiros têm que decidir quem vive e quem morre, a verdade é essa. Não há condições de executarmos duas operações ao mesmo tempo. Outro dia, eu fiz um parto e a criança morreu nos meus braços, porque chegamos tarde e não tínhamos equipamento para atender. Passei semanas com aquilo na minha cabeça. Não é fácil ver uma pessoa morrer na sua frente só por falta de estrutura”, afirma o sargento Marcone Costa Alves, da equipe de resgate de Teresina.
Bombeiro há 17 anos, ele ganha um soldo de R$ 1.573, somado a um auxílio refeição de R$ 120, mais um adicional de habilitação de formação de sargento de R$ 70 e uma gratificação por tempo de serviço de R$ 9 a cada dez anos – que ele explica que já foi extinta para os novos bombeiros, mas ele terá até se aposentar.
Alves conta que os homens trabalham “na base da garra e da coragem” porque amam a profissão. “Faltam luvas, capacetes, material de proteção contra incêndio. Estamos carentes de tudo o que dá para imaginar. Semana passada, houve um acidente grave que terminou com três pessoas mortas. Passamos meia hora para conseguir tirar as pessoas de dentro do carro só por causa da falta de equipamento”, diz.
A existência de apenas um quartel também prejudica a logística em Teresina. Alves explica que, quando há fogo em residências de bairros afastados, eles sabem que não vão conseguir chegar a tempo. “Às vezes, demoramos uma hora para chegar. São tragédias anunciadas, estão brincando com a vida da população. Infelizmente, as pessoas pagam com a própria vida.”
Alves conta que fica desanimado com as condições de trabalho. “Eu não vejo ser bombeiro como uma profissão, vejo como religião. Mas, não vou mentir, essas condições trazem uma insatisfação muito grande. Muitos profissionais bons pensam em sair, porque não aguentam mais a falta de estrutura.”
O bombeiro militar A. (que preferiu não se identificar por temer retaliações) afirmou que o problema de gestão na instituição é generalizado. Ele explica que falta efetivo, por isso os homens fazem escalas abusivas de trabalho.
“Trabalhamos mais de 70 horas por semana, porque o efetivo é reduzido. As escalas são apertadas, a folga é diminuída. O pessoal ainda trabalha em condições inseguras, com carros sucateados, mas estão em serviço porque se pararmos não há socorro”, afirma.
O bombeiro confirma que não há equipamentos de proteção individual. “Nós temos um efetivo diário de 20 homens em Teresina, mas só temos oito roupas de aproximação, então muitos vão atender ocorrências sem os trajes. Cada militar deveria ter sua própria roupa, mas aqui elas são passadas de efetivo para efetivo e ainda acabam se transformando em um vetor de contaminação”, diz.
Ele afirma que tem consciência dos riscos, mas não pode se omitir de realizar as atividades até por conta do regime militar ao qual são subordinados os bombeiros. Porém, ele diz que a grande justificativa é a questão humanitária do trabalho, já que os bombeiros são acionados geralmente quando pessoas precisam ser salvas.
“Nosso maior problema, além da remuneração, é a falta de condições de trabalho. O bombeiro entra no serviço operacional diário, mas não tem a condição de proteção devida. Pode voltar no final do dia em óbito”, diz o bombeiro, que revelou comprar equipamentos com o próprio salário para tentar se proteger, já que eles não são fornecidos pela instituição.
Outro lado
O coronel Manoel Bezerra dos Santos, comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar do Piauí, explicou ao G1 que foram comprados 15 equipamentos completos de combate no início deste ano, compostos por traje especial, capacete, bota e outros equipamentos de proteção. A compra teria sido feita no início deste ano por cerca de R$ 70 mil.
“Estamos dependendo de a empresa fazer a entrega. Ela ficou de repassar o material até o dia 10 de junho, mas houve um problema por parte deles e tivemos o atraso. Mas os equipamentos já foram adquiridos”, disse.
Santos admite que a compra de 15 equipamentos, somados a outros oito que estão em uso, não são suficientes para o efetivo do estado. “Um equipamento desses é muito caro, só o conjunto gira em torno de R$ 3,5 mil. Vamos vendo de que forma vamos priorizar as guarnições para tentar, realmente, atender o que prevê a lei. Nossa proposta é no futuro ter um equipamento para cada bombeiro. Esse é o pensamento do Comando e também do governo do estado do Piauí”, afirmou.
Santos disse também que a Secretaria Nacional de Segurança Pública adquiriu três veículos para o Piauí. “A entrega dos carros já foi feita, eles estão no quartel do Corpo de Bombeiros de Teresina. Vamos agora agendar com o governador para que seja feita a entrega oficial para que sejam colocados em uso.”
Sobre a falta de efetivo, Santos afirma que os homens recebem treinamento justamente para poder praticar “várias atividades”. Ele admite que, eventualmente, a escala de 24 horas de trabalho por 48 de folga não é cumprida à risca, mas os bombeiros são consultados antes da convocação para horas extras e recebem pelo serviço extra. Segundo Santos, não há imposição do Comando.
“Fizemos cursos de capacitação para manter o homem na operacionalidade, para que não faça uma coisa só. Ele faz a parte de salvamento, combate a incêndio, resgate. Ele é bem eclético”, disse.
Em relação aos salários, o coronel afirma que houve um reajuste neste mês, o que elevou o salário inicial de R$ 1.405,00 para R$ 1.570,00. “Não é que seja o salário ideal, o governo tem intenção de melhorar, mas ele precisa ver a questão do caixa do governo.”
Santos explicou que sua próxima meta é a aquisição de dois jet skis para utilização no município de Parnaíba no período das férias escolares, em julho.
Segundo a ABMEPI, existe somente uma unidade de resgate no estado que é usada em Teresina e na Região Metropolitana. Para combate a incêndio, há apenas dois carros em operação. Se a equipe sai para socorrer uma pessoa, é necessário esperar o retorno do veículo para que outra vítima seja atendida.
“Os bombeiros têm que decidir quem vive e quem morre, a verdade é essa. Não há condições de executarmos duas operações ao mesmo tempo. Outro dia, eu fiz um parto e a criança morreu nos meus braços, porque chegamos tarde e não tínhamos equipamento para atender. Passei semanas com aquilo na minha cabeça. Não é fácil ver uma pessoa morrer na sua frente só por falta de estrutura”, afirma o sargento Marcone Costa Alves, da equipe de resgate de Teresina.
Bombeiro há 17 anos, ele ganha um soldo de R$ 1.573, somado a um auxílio refeição de R$ 120, mais um adicional de habilitação de formação de sargento de R$ 70 e uma gratificação por tempo de serviço de R$ 9 a cada dez anos – que ele explica que já foi extinta para os novos bombeiros, mas ele terá até se aposentar.
Alves conta que os homens trabalham “na base da garra e da coragem” porque amam a profissão. “Faltam luvas, capacetes, material de proteção contra incêndio. Estamos carentes de tudo o que dá para imaginar. Semana passada, houve um acidente grave que terminou com três pessoas mortas. Passamos meia hora para conseguir tirar as pessoas de dentro do carro só por causa da falta de equipamento”, diz.
A existência de apenas um quartel também prejudica a logística em Teresina. Alves explica que, quando há fogo em residências de bairros afastados, eles sabem que não vão conseguir chegar a tempo. “Às vezes, demoramos uma hora para chegar. São tragédias anunciadas, estão brincando com a vida da população. Infelizmente, as pessoas pagam com a própria vida.”
Alves conta que fica desanimado com as condições de trabalho. “Eu não vejo ser bombeiro como uma profissão, vejo como religião. Mas, não vou mentir, essas condições trazem uma insatisfação muito grande. Muitos profissionais bons pensam em sair, porque não aguentam mais a falta de estrutura.”
O bombeiro militar A. (que preferiu não se identificar por temer retaliações) afirmou que o problema de gestão na instituição é generalizado. Ele explica que falta efetivo, por isso os homens fazem escalas abusivas de trabalho.
“Trabalhamos mais de 70 horas por semana, porque o efetivo é reduzido. As escalas são apertadas, a folga é diminuída. O pessoal ainda trabalha em condições inseguras, com carros sucateados, mas estão em serviço porque se pararmos não há socorro”, afirma.
O bombeiro confirma que não há equipamentos de proteção individual. “Nós temos um efetivo diário de 20 homens em Teresina, mas só temos oito roupas de aproximação, então muitos vão atender ocorrências sem os trajes. Cada militar deveria ter sua própria roupa, mas aqui elas são passadas de efetivo para efetivo e ainda acabam se transformando em um vetor de contaminação”, diz.
Ele afirma que tem consciência dos riscos, mas não pode se omitir de realizar as atividades até por conta do regime militar ao qual são subordinados os bombeiros. Porém, ele diz que a grande justificativa é a questão humanitária do trabalho, já que os bombeiros são acionados geralmente quando pessoas precisam ser salvas.
“Nosso maior problema, além da remuneração, é a falta de condições de trabalho. O bombeiro entra no serviço operacional diário, mas não tem a condição de proteção devida. Pode voltar no final do dia em óbito”, diz o bombeiro, que revelou comprar equipamentos com o próprio salário para tentar se proteger, já que eles não são fornecidos pela instituição.
Outro lado
O coronel Manoel Bezerra dos Santos, comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar do Piauí, explicou ao G1 que foram comprados 15 equipamentos completos de combate no início deste ano, compostos por traje especial, capacete, bota e outros equipamentos de proteção. A compra teria sido feita no início deste ano por cerca de R$ 70 mil.
“Estamos dependendo de a empresa fazer a entrega. Ela ficou de repassar o material até o dia 10 de junho, mas houve um problema por parte deles e tivemos o atraso. Mas os equipamentos já foram adquiridos”, disse.
Santos admite que a compra de 15 equipamentos, somados a outros oito que estão em uso, não são suficientes para o efetivo do estado. “Um equipamento desses é muito caro, só o conjunto gira em torno de R$ 3,5 mil. Vamos vendo de que forma vamos priorizar as guarnições para tentar, realmente, atender o que prevê a lei. Nossa proposta é no futuro ter um equipamento para cada bombeiro. Esse é o pensamento do Comando e também do governo do estado do Piauí”, afirmou.
Santos disse também que a Secretaria Nacional de Segurança Pública adquiriu três veículos para o Piauí. “A entrega dos carros já foi feita, eles estão no quartel do Corpo de Bombeiros de Teresina. Vamos agora agendar com o governador para que seja feita a entrega oficial para que sejam colocados em uso.”
Sobre a falta de efetivo, Santos afirma que os homens recebem treinamento justamente para poder praticar “várias atividades”. Ele admite que, eventualmente, a escala de 24 horas de trabalho por 48 de folga não é cumprida à risca, mas os bombeiros são consultados antes da convocação para horas extras e recebem pelo serviço extra. Segundo Santos, não há imposição do Comando.
“Fizemos cursos de capacitação para manter o homem na operacionalidade, para que não faça uma coisa só. Ele faz a parte de salvamento, combate a incêndio, resgate. Ele é bem eclético”, disse.
Em relação aos salários, o coronel afirma que houve um reajuste neste mês, o que elevou o salário inicial de R$ 1.405,00 para R$ 1.570,00. “Não é que seja o salário ideal, o governo tem intenção de melhorar, mas ele precisa ver a questão do caixa do governo.”
Santos explicou que sua próxima meta é a aquisição de dois jet skis para utilização no município de Parnaíba no período das férias escolares, em julho.
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